sábado, 30 de junho de 2012

Amor de pessoas queridas!

Saudade gostosa de minha avó Bilica
E do meu avô Pai Né!

Carinho quentinho e sorridente no acolhimento...
Na conversa, 
Na comida farta da mesa posta...

Ainda não sou avó,
Mas aprendi na pele esse amor de vó...!
Esse carinho de vô!

Ali eu podia quase tudo.
Ali eu tinha um colinho sem não,
Porque o tempo deles era diferente
Do tempo da mãe ocupada
Com tantos filhos e afazeres.

A avó era a extensão da mãe...
Cafuné, olhar de amor e bondade,
Cuidado dobrado de mãe ao quadrado,
Cuidado sábio que o tempo trouxe
Na dor e na vivência da experiência...

Cobertor na madrugada
Igual a meu pai fazia
O meu avô Pai Né nunca esquecia...
Mesmo que frio não estivesse fazendo,
Ele sempre queria nos aquecer
com seu sorriso a quase fechar os olhinhos...

Brincadeiras na fazenda...
Um vovô fazendeiro,
Uma vó que brincava de casinha,
Tios amorosos a nos cuidar.

Depois de cinco filhos homens,
Chega uma neta menina
Que ela pegou no colo
E ensinou a ser mulher...
Ensinou bordar, comidinha fazer,
Esticar a cama e a estudar!

Para ser uma mulher independente,
Para ir e vir...

Sempre a me esperar
Com seu amor de arroz doce,
Canjica feita com doce de leite e canela,
chá e biscoito a hora que eu quisesse...
e, em volta, sua companhia!

E a minha doce Vóbisa, bisa dos meus filhos,
Tão intimada ficou pelos frutos desdobrados
De seus netos e netas...
Pela história se construindo no tempo.
Ser mãe, avó, bisa, tata... Isso valia muito!

Bodas de ouro e diamante...
Orgulho da história feita no tempo!
Não falava das perdas,
Mas as velas e orações em seu lar
Sempre  acesas estavam 
Perto dos retratos daquelas pessoas queridas 
Já distantes na eternidade...

Ela nunca quis chorar perto de mim...
Sempre escondeu as lágrimas
No seu peito de mulher forte e amorosa,
Na sua maturidade de avó,
Na dor de quem perde um filho jovem...

Ia junto dela levar flores para o filho...
Enquanto cuidava da foto 
e das flores no túmulo,
Orações ia fazendo baixinho
A me ensinar o amor 
da resignação e da impotência
E a reverência ao mistério maior 
que é a vida... E a morte...

Não falava da morte...
Falava da vida repleta de sonhos e esperanças,
De planos para nós,
De formaturas e de conquistas...!

Abençoava-nos a todos,
Vá com Deus, Sagrado Coração de Jesus 
e Nossa Senhora que os(as) acompanhem...
E assim íamos confiantes na sua oração 
e bênção pela vida afora...

Meu avô com muitas histórias para contar,
Entretia  filhos, netos e bisnetos curiosos
Com seus casos engraçados,
Com a sua valentia na vida,
Com sua calma no tempo...
Com o respeito pela palavra do livro sagrado
Que ele lia, aos noventa anos, sem óculos...

Que presente a vida me deu
Bisavós, avós, pais presentes...
Tudo dentro do que cada um 
deu conta de fazer
Tudo certo, como tinha que ser...!

Mesmo o amor não falado
Era escancarado na atitude
De quem ama e é humano,
Mas quer ser grande e invencível
Para de nós cuidar...

Pai, mãe, Avós, avôs...
Obrigada é a palavra que posso dizer agora...
Amor demais eu lhes dou
A atravessar a eternidade...
Que chegue aonde estiverem
Como um abraço de saudade
E de profunda gratidão!


Dulce Braz


sábado, 23 de junho de 2012

Filhos


Filhos são pessoas que a gente aprende a amar devagarinho,
na feitura do tempo e do olhar...

Chegam como sementes que pedem para florir
Pedem nosso colo, nossa mão...
Choram nossa falta.
Inventam alegrias
E nos fazem seres melhores!

Crescem com o tempo no nosso amor,
Na nossa curiosidade...
Palavras engraçadas,
Beijos molhados!
Febres na madrugada...

Aniversários coloridos na alegria..!
Abraços apertados desenrolando presentes!
Vovô, vovó, tios, tias e primos...!

Jogos, frutas e brincadeiras...
Brinquedos espalhados pelo chão...
Escolinha, amiguinhos, praças e parquinhos...

Mãos pequenas crescendo em nossas mãos...!
Soltando–se de nossas mãos...
Buscando outros espaços...!

Lápis nas mãos, já querem representar o mundo...
Desenhos nas paredes,
Flores para a mamãe!

Machucados e frustrações para cuidar...
O bichinho que morreu...
O vovô que deu adeus...
E uma dor para entender...

Nosso coração vai se alargando...
Pedem espaço,
Pedem soltura...
Querem correr...!
Tudo é bom de ver,
Nada se pode perder.

Turmas, esporte e competições...
Posso nadar? Posso ir com o coleguinha?
Posso crescer sozinho...?

E essas crianças vão crescendo no tempo...
Olhando seus caminhos...
Escolhendo companhias para dividir o amor...
Selecionando opções ...

Quanto amor aprendemos como pais!
Quanto tempo e vida ganhamos!
Quanto perdemos por não ver tudo...
No corre-corre da vida de cada um!

Filhos são porções de luz!
Preocupações na nossa vida...
São doces amores !
Brisa fresca na alma...
Sonhos nos nossos sonhos.

Presentes embrulhados por Deus
E que nossas mãos desenrolam ,
Cuidam...
E conduzem ...
Errando e acertando,
No nosso amor desmedido,
Na nossa imperfeita condição...

Sempre orando por eles!
Esperando por eles...
Na saída da escola,
Na noite que não acaba,
No tempo que os transformam em jovens e adultos.

Estão bem? Dormiram? Comeram? Estão felizes?
Até quando vamos cuidar?
Tem um fim de ser pai? De ser mãe?
Tem um amor igual?

Filhos não são nossos...
Mas são extensões dos nossos olhares,
Dos nossos valores,
Extensões da nossa vida...!

E são o que são, diferentes de nós...!
Vão se fazendo eles nas suas escolhas,
Nas suas dores,
Nos seus encontros com o outro.
Um dia trançando entre nossas pernas,
No outro saindo para o mundo conquistar...!

De repente levantam o diploma e se livram da beca!
O tempo passou em volta deles ,
Vão alçar seus voos...
Outros ninhos construir,
Trazer seus frutos para nossa vida florir.

E esses pais-avós vão ficando na terra que já deu a semente...
Daqui a pouco se dissolvem no universo...
Dão espaço para novas sementes de amor,
Mas do coração de seus filhos não se despedem.
Amor eterno e infinito
misturado no ar de nossa existência.

Um fato triste:
Não são todos os pais que amam,
Não são todos os filhos que crescem adubados e hidratados de amor...
A vida não é tão bela para todos.
Às vezes há crianças que não conheceram o amor de pai e mãe.
Essas dores do mundo...
Das misérias do humano...

Até isso a gente mostra,
A vida é isso que se vê...
É belezura, mas é dor e concretude também.
É perda...
Imprevisibilidades e sonhos...

Todos nós precisamos de alguém
A nos chamar de pai... mãe...!

Todos nós temos um grito de socorro
que se traduz em Mãe... Pai...!
Luzes de nossas trevas...
Sejam reais,
nossos pais terrenos.
Sejam mistério e providência!
Nossos pais espirituais...

Filhos ...
Amores construídos no nosso corpo,
No ninho da nossa vida...
Amores do amor de Deus!

Dulce Braz.



quarta-feira, 13 de junho de 2012

Uma conversa sobre o amor, a vida e a morte


Vivemos como se nunca fôssemos morrer...
Porque a vida é bela e o morrer é triste.

Morre o velho, o novo, o sol, o dia...
Morrem alegrias e saudades,
Morrem pássaros e rios,
Morrem pessoas queridas...



Morre na gente a vida idealizada.
Nascemos mais velhos no olhar...
Falta um pedaço, falta o calor da presença viva.

Fica uma história, uma fala, um sorriso,
Um jeito de querer bem...
Amor resignado e impotente.

Somos saudade por isso
E esperança no tempo...
O adeus dói. O corpo sente. A alma chora...
Falar de morte incomoda a vida.
Todos vão saindo de fininho de si...

Minha mãe falou da morte
Quando ela veio para ficar.
Chamou no ouvido a cada um
E pediu perdão.

Aquela mulher calada na vida,
Simples em ser, romântica no sentir,
Quase nunca mostrava, em palavras, a sua expressão...
Mas, na sua adolescência, brincou com as palavras escritas
em papeis escondidos que eu li um dia...
Foi professora como eu,
Uma moça bonita e esperançosa.

Uma menina pequena e triste
que ficou sem sua mãe muito cedo...
Mostrava essa falta.
Às vezes falava dela...
Sem saber precisar a presença e a ausência
da sua mãe na sua vida de mulher.
Chorava a ida de um pedaço dela
E em tardes de Ave-Maria,
buscava recuperar a mãe na saudade...

E assim, uma pequena  sem mãe
muitas vezes se mostrou na vida.
Olhava as coisas e as compreendia...
Mas seu silêncio era o que respondia
Quando as palavras preferiam ficar guardadas sem sair.
Porque tinha medo de dizer o que não devia
E ofender nunca queria.
  
Um respeito mostrava pelas nossas escolhas...
Comida quentinha na hora certa,
Casa arrumada.
Sua amizade aos cães, plantas e flores...
Um vaso sobre a mesa, flores pelos cantos
E um fuxico no sofá.

Seu companheiro foi bem cedo também...
Ela se despediu sem se dar o direito de chorar a perda.
E a sua solidão não a revelou escancarada,
Quis ser esteio,
Cobrir o teto para o abrigo da família partida;

Continuou arrumando a vida e a casa,
Um aconchego com o sabor da comida na cozinha
E uma música para alegrar em seu corpo e no lar
a saudade do seu amor...

Um dia a vi chorando no alpendre...
Era uma tarde de saudade
E havia uma música no aparelho de som.
Sentei-me ao lado dela,
Mas palavra ela não falou...
Enxugou as lágrimas,
Guardou a saudade
E de outras coisas começamos a falar.

Um tempo depois
A morte veio chegando, querendo conversa...
Foi falando aos poucos, em muitos momentos,
Cirurgias, exames, quimioterapia e radioterapia.
Um ano, dois... cinco...
Tentativa de escapar,
Tentativa nossa de esquecer.
Um dia após o outro
Sempre era mais um dia.
Festas para comemorar a vida
Música para dançar.

Até que a desesperança veio nos exames,
Na fala médica,
No nó na garganta que amarra as palavras e a alegria,
No aquietamento dela em si mesma.

Depois se levantou do tombo pior desta vida,
Arrumou o corpo,
Chamou as amigas para compartilhar um chá e uma oração...
E presenteou-as com um vaso de flores de fuxico.

Enfeitou o lar...
Um presente aqui. Outro ali. 
Queria repartir o amor
e um pouquinho de si em tudo que passou a fazer.

Do médico querido, despediu-se,
Deixando com ele um símbolo de proteção
E o desejo de luz em seus caminhos profissionais.

A um padre solicitou
Uma bênção para ela e a família.
Casou a filha caçula,
Abençoou as alianças e o sim.
Planejou a mesa farta,
A alegria do encontro
E o momento da despedida.

Pediu música no quarto...
Quase 24 horas de música que um e outro filho trazia.
Queria dançar no céu,
Rodopiar nas nuvens!

Lembrou casos engraçados, um pouco da sua história...
Chamou os filhos. Buscou os netos...
Apenas dois jovens netos distantes, mas seu amor os trouxe em pensamento!
E a cada um e a seu tempo
um sussurro de perdão e uma declaração de amor ela deixou.

Agradeceu pela palavra dita,
Pela expressão do perdão.
Revisou seu papel de mãe...
Foi severa demais?
Falou pouco de amor?

Tudo no seu lugar... Como tinha que ser, mãezinha...!
Fez o que deu conta de fazer.
E somos agradecidos demais,
Por ser o que foi...
Você conquistou nosso respeito,
Fez-nos entender a limitação de ser no mundo.

Mostrou-se limpa, sem mágoa... pronta para ir.
Uma frase para a lápide...
E a foto escolhida do dia do seu casamento,
Revelando a mocidade a sorrir sonhadora
Com uma história por construir...

Abraçou, beijou, falou eu te amo!
Soltou-se de nossas mãos,
Fechou os olhos...
Abriu-os e pediu ao Divino pela proteção dos seus filhos e netos.

Já não pensava mais em si.
Estava solta,
Estava em paz...!
A dor a abandonou.
Ela dizia: não estou sentindo dor, minha filha...

Com suas mãos buscando as minhas,
Pensou e falou em flores de fuxico 
A enfeitar uma roupa branca
Que ela vestiria para o encontro com Deus.
Depois fechou os olhos...
E soltou suas mãos das minhas...


Acendi a vela do Santíssimo!
Um a um os filhos foram chegando sem precisar que fossem chamados. 
E a envolvemos em um círculo de silêncio e espera...
Sem choro alto,
Sem desespero...
Só com amor e silêncio doído.
E ela foi assim...

E ela ficou assim em nós...  meiga e serena,
Nos ensinando sobre o morrer e o viver.

Com seu adeus em amor,
Falou da morte...
Olhou-a nos olhos e se pôs pronta.
Sem alarde, sem chorar...
Uma fortaleza a nos ensinar a vida e a morte
No seu jeito de ter sido a nossa mãe.


Dulce Braz.
A frase escolhida por minha mãe para deixar aos que ama:
“Não chore. Morrer não é o fim. Morte é vida! Paz!...